quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Do Céu Rainha

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Do Céu Rainha
Afirma São Luís Grignion de Montfort que, “no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria” 26
O glorioso título de Rainha
Essa augusta prerrogativa de Nossa Senhora nos é apresentada com maior profundidade pelo santo Fundador dos Redentoristas, ao iniciar ele seus belos e piedosos comentários sobre a Salve Rainha:
“Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja A honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de Rainha. Se o Filho é Rei, diz Pseudo-Atanásio, justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se Rainha. Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno, diz São Bernardino de Siena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo abade, não foi diversa da de Jesus, como, pois, da monarquia do Filho pode ser separada a Mãe? Por isso deve julgar-se que a glória do reino não só é comum entre a Mãe e o Filho, mas também que é a mesmo para ambos.
“Se Jesus é Rei do universo, do un.iverso também é Maria Rainha, escreve Roberto abade. De modo que, na frase de São Bernardino de Siena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte, estão sujeitos ao domínio de Maria os Anjos, os homens e todas as coisas do Céu e da Terra, porque tudo  está também sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico Lhe dirige estas palavras: «Continuai pois, a dominar com toda a confiança; disponde a vosso arbítrio dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis, pertence-Vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as criaturas»” 27
Maria Rainha: obra-prima da misericórdia de Deus
À luz dos precedentes ensinamentos, ouçamos o Prof. Plinio Correa de Oliveira tecendo alguns comentários sobre a realeza da Santíssima Virgem:
“ Nossa Senhora Rainha é um título que exprime o seguinte fato. Sendo Ela Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e Esposa da Terceira  Pessoa, Deus, para honrá-La, deu-Lhe o império sobre o universo; todos os Anjos, todos os Santos, todos os homens vivos, todas almas  do Purgatório, todos os réprobos no Inferno e todos os demônios obedecem à Santíssima Virgem. De sorte que há uma mediação de poder, e não apenas de graça, pela qual Deus executa todas as suas obra e realiza todas as suas vontades por intermédio de sua Mãe.
“ Maria não é apenas o canal por onde o império de Deus passa, mas é também a Rainha que decide por uma vontade própria, consoante os desígnios do Rei.
Nossa Senhora é uma obra-prima do que poderíamos chamar a habilidade de Deus para ter misericórdia em relação aos homens...” 28
Rainha dos corações
Continua o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Luís Grignion de Montfort faz referência a essa linda invocação que é Nossa Senhora Rainha dos Corações”.
“Como coração entende-se, na linguagem das Sagradas Escrituras, a mentalidade do homem, sobretudo sua vontade e seus desígnios”.
“Nossa Senhora é Rainha dos corações enquanto tendo um poder sobre a mente e a vontade dos homens. Este império, Maria o exerce, não por uma imposição tirânica, mas pela ação da graça, em virtude da qual Ela pode liberar os homens de seus defeitos e atraí-los, com soberano agrado e particular doçura, para o bem que Ela lhes deseja. “Esse poder de Nossa Senhora sobre as almas nos revela quão admirável é a sua onipotência suplicante, que tudo obtém da misericórdia divina. Tão augusto é este domínio sobre todos os corações, que ele representa incomparavelmente mais do que ser Soberana de todos os mares, de todas as vias terrestres, de todos os astros do céu, tal é o valor de uma alma, ainda que seja a do último dos homens!
“Cumpre notar, porém, que a vontade (isto é, o coração) do homem moderno, com louváveis exceções, é dominada pela Revolução. Aqueles, portanto, que querem escapar desse jugo, devem se unir ao Coração por excelência contra-revolucionário, ao Coração de mera criatura no qual, abaixo do Sagrado Coração de Jesus, reside a Contra-revolução: ao Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
“Façamos, então, a Nossa Senhora este pedido: «Minha Mãe, sois Rainha de todas as almas, mesmo das mais duras e empedernidas que queiram abrir-se a Vós. Suplico-Vos, pois: sede Soberana de minha alma; quebrai os rochedos interiores de meu espírito e as resistências abjetas do fundo de meu coração. Dissolvei, por um ato de vosso império, minhas paixões desordenadas, minhas volições péssimas, e o resíduo dos meus pecados passados que em mim possam ter ficado. Limpai-me, ó minha Mãe, a fim de que eu seja inteiramente vosso»” 30

Rainha posta para a salvação do mundo
Ainda sobre o título de Nossa Senhora Rainha, não menos eloquentes são estas palavras do Papa Pio XII:
“A realeza de Maria é uma realidade ultraterrena, que ao mesmo tempo, porém, penetra até no mais íntimo dos corações e os toca na sua essência profunda, no que eles têm de espiritual e imortal.
“A origem das glórias de Maria, o momento solene que ilumina toda a sua pessoa e missão, é aquele em que, cheia de graça, dirigiu ao Arcanjo Gabriel o Fiat, que exprimia o seu assentimento à disposição divina. Ela se tornava assim, Mãe de Deus e Rainha, e recebia o ofício real de velar sobre a unidade e paz do gênero humano. Por meio d’Ela temos a firme esperança de que a humanidade se há de encaminhar pouco a pouco nesta senda da salvação. [...]
“Que poderiam, portanto, fazer os cristãos na hora atual, em que a unidade e a paz do mundo, e até as próprias fontes da vida, estão em perigo, se não volverem o olhar para Aquela que se lhes apresenta revestida do poder real? Assim como Ela envolveu já no seu manto o Divino Menino, primogênito de todas as criaturas e de toda a criação (Col. I, 15), assim também digne-se agora envolver todos os homens e todos os povos com a sua vigilante ternura; digne-se, como Sede da Sabedoria, fazer brilhar a verdade das palavras inspiradas, que a Igreja Lhe aplica: «Por meu intermédio reinam os reis, e os magistrados administram a justiça; por meio de Mim mandam os príncipes e os soberanos governam com retidão» (Prov. VIII, 15-16).

“Se o mundo hoje combate sem tréguas para conquistar sua unidade e para assegurar a paz, a invocação do reino de Maria é, para além de todos os meios terrenos e de todos os desígnios humanos de qualquer maneira sempre defeituosos, o clamor da fé e da esperança cristã, firmes e fortes nas promessas divinas e nos auxílios inesgotáveis, que este império de Maria difundiu para a salvação da humanidade” 31
Rainha que vencerá a Revolução
Como fecho desses comentários ao louvor em epígrafe, vem a propósito outro pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, particularmente oportuno nesta atual fase histórica, convulsionada pelo caos em quase todas as atividades humanas:
“A realeza de Nossa Senhora, fato incontestável em todas as épocas da Igreja, veio sendo explicitada cada vez mais a partir de São Luís Grignion de Montfort, até aquele 13 de julho de 1917, quando Maria anunciou em Fátima: «Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará». E uma vitória conquistada pela Virgem, é o seu calcanhar que outra vez esmagará a cabeça da serpente, quebrará o domínio do demônio e Ela, como triunfadora, implantará seu Reino.
“Portanto, devemos confiar em que Maria já determinou atender as súplicas de seus filhos contra-revolucionários, e que Ela, Soberana do universo, pode fazer a Contra-Revolução conquistar, num relance, incontável número de almas. Nossa Senhora Rainha poderá expulsar desta Terra os revolucionários impenitentes, que não querem atender ao seu apelo, de maneira que um dia Ela possa dizer: Por fim — segundo a promessa de Fátima — o meu Coração Imaculado triunfou!” 32
25) JOURDAJN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 272-282; Vol. V p. 605.
26) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. P. 34.
27 Liguori, afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 23-24.
28 Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA, Plinio. Conferência em 22/5/1968. (Arquivo pessoal).
29 GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 42.
30) Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA, Plinio. Conferências em 31/5/1972 e 13/3/1992. Arquivo pessoal).
31) PIO XII. Discurso no solene rito mariano de 1 de novembro de 1954. In: Documentos Pontifícios. Petrópolis: Vozes, 1955. p. 20-21.
32) Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferências em 31/5/1965 e 31/5/1991. (Arquivo pessoal).