sexta-feira, 20 de março de 2015

Salve, luz pura

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Salve, luz pura
“Os Padres da Igreja não cessam de dar a Maria, como a seu Davi no Filho, o nome de luz. Para eles, Ela é a luz esplendidíssima; a luz das nações; a luz de nosso coração; a luz figurada por aquela criada no começo, e da qual crê-se foi feito o sol, como o Divino Sol de Justiça tirou sua substância corporal da substância da própria Maria, quando veio a este mundo dissipar nossas trevas. [...]
Excelências da luz de Maria
“Os bens provenientes da luz natural, a que brilha aos nossos olhos, são incontáveis. Sem ela a Terra não seria mais do que um horrendo deserto, tornando impossível a vida do homem. Mas os bens que nos traz Maria, a luz de nossas almas depois de Deus, são incomparavelmente mais preciosos e maiores. Sem a Santíssima Virgem, faltar-nos-ia não a luz do corpo, mas a de nossa alma. Sem Ela, todos os homens seriam infalivelmente vítimas da morte eterna, pois é por meio de Maria que nos veio o Divino Sol Jesus Cristo, fora do qual não encontraríamos nem luz nem salvação. [...
“Maria é ainda a luz, por causa de sua beleza. Depois de seu Divino Filho, não houve e não haverá jamais nada que se Lhe compare. O sol que ilumina nossos olhos, as estreias que nos rejubilam com sua maravilhosa harmonia, nada são perto d’Ela. [...]
“A luz torna visíveis os mais humildes objetos: que um raio de sol penetre num ambiente, e logo se perceberá até os mínimos átomos de poeira volteando nos ares. Maria toma nossas almas, coloca-as em face de seu adorável Filho, faz penetrar em nós um raio de sua divina luz, e nossos olhos se abrem, reconhecemos nossas misérias, choramos nossos pecados, abraçamos a virtude. Nossos pensamentos, nossas afeições, esclarecidas graças a Maria, se voltam inteiramente para o soberano Bem.
“Maria é ainda a luz que nos precede e nos mostra o caminho que é preciso seguir em nossa perigosa viagem através do mundo. Ela nos ilumina com seus exemplos, ajuda-nos com sua poderosa intercessão.
“Sua luz não saberia enfraquecer, porque Ela deu o dia a Jesus Cristo, a Luz incriada, sem nada perder de sua própria integridade. A luz é incorruptível, a pureza de Maria é ainda mais incorruptível. Jamais se aproximou d’Ela qualquer fímbria de mácula. Esta luz não tem névoas, porque não há pecado em Maria.
“Para os que entram na via da perfeição, Maria é a luz que indica o caminho, aplaina os obstáculos, auxilia as flores e os frutos dos bons hábitos a se desenvolver e amadurecer, e fá-los crescer em graça e virtude. [...]
“Aqueles aos quais Maria ilumina, não cairão nos embustes do demônio” 48
Luz que ilumina toda a criação
Comenta ainda o douto Pe. Jourdain: “À santidade incomparável com a qual a Bem-aventurada Virgem Maria foi agraciada, desde o primeiro instante de sua existência, é preciso acrescentar as luzes com que Deus, ao mesmo tempo, inundou sua alma. O nome de Maria, entre outras significações místicas, possui a de iluminada. As luzes com que foi esclarecida ao sair do nada, justificam plenamente esta interpretação.
‘Antes de tudo, conheceu Ela a fonte de toda luz, e em Deus conheceu todo o resto, segundo a palavra do Profeta: In lumine tuo videbimus lumen (Si. XXXV, 10). Eia viu Deus criador de todas as coisas, e conheceu as criaturas espirituais, as racionais e as privadas de razão. Ela viu em Deus, bem supremo e absoluto, o que era bom e o que era mau, o que merecia ser procurado ou desprezado, o que era preciso amar e o que odiar. E porque a luz que A iluminava era perfeita, possuía Ela a justa e conveniente medida de todas as coisas. [...]
“[Assim], a Luz divina, a Luz eterna, produziu uma luz criada, destinada a iluminar todas as outras obras das mãos de Deus” .
Essa singular luminosidade da Virgem, espargindo seu fulgor sobre toda a criação, foi também exaltada pelo entusiasmo de São Tomás de Villanueva:
“O tocha brilhantíssima, a quantos alegrastes quando, iluminada pelo resplendor divino, aparecestes imaculada no seio de vossa mãe! [...]
“Dizei-nos, ó sábios astrólogos que contemplais as estrelas; dizei-nos ó profetas! que chegará a ser esta donzela que tão brilhante e avantajada se apresenta ao mundo? [...]
“O dia digno de ser celebrado com grande regozijo, em que tal dom recebemos. Exclamamos com São Bernardo: «Tirai o sol, e o que restará no mundo senão trevas? Tirai Maria da Igreja, que ficará senão a escuridão?»” 50
A luz da Contra-Revolução
Por sua vez, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nos faz compreender o papel fundamental da Luz pura junto aos que se opõem à Revolução:
“Nossa Senhora é Aquela que gerou a Luz do mundo, Jesus Cristo Senhor nosso. Ela é o foco dessa Luz que as trevas não conseguiram envolver e impedir que fosse vista pelos homens; Ela é o canal por meio do qual a luz do Salvador chega até nós.
“E Maria tanto resplandece da luz de seu Divino Filho, que se diria ser Ela a mesma luz. Por isso podemos cantar com a Igreja: «Salve radix, salve porta, ex qua mundo lux est orta» — «Salve ó raiz, o porta, por onde jorrou a luz ao mundo» 51
“Nós, contra-revolucionários, devemos pedir à Santíssima Virgem que encha nossas almas dessa sua luz, que é, em última análise, a luz da Contra-Revolução, é a luz que fende as trevas da Revolução e chega até aos homens, libertando-os do erro, do vício, do crime e do mal” 52
 Valei ao mundo e a toda criatura
Rainha e Senhora de toda a criação, por vontade divina, Maria
Santíssima vela particularmente pelas necessidades de seus súditos e
pelos cuidados de seu imenso império.
Universal proteção
O dominicano Fr. Bernard assim traduz esse sentimento: “Maria, por mais alto que seja seu coroamento de glória no Céu, permanece em  estreito contato com os homens na Terra. [...J Pela própria perfeição  de seu estado, Ela nos está mais próxima do que os nossos mais próximos. Para nós Ela é sempre mais que o Anjo da Guarda, seja ele o mais terno e o mais vigilante dos amigos. [...]
“Assim, devemos estar absolutamente persuadidos de que a Virgem Santíssima possui todos os meios de pensar constante e distintamente em todos os seus filhos. Nem os tempos nem os espaços podem opor obstáculos ou limites à sua visão, situada, agora, num outro plano, sob a luz da glória [...]: «Meu filho, nos diz Ela,penso em ti na minha eternidade, e não posso mesmo afastar-te de meu pensamento. No fundo, jamais te perco de vista; conheço-te mais do que tu a ti mesmo; estou mais presente em ti do que tu». [...]
“Com efeito, sua dignidade de Rainha, e ainda mais sua missão de Mãe obrigam-Na a ter esta presença de espírito em relação a tudo e a todos. Para isso Ela uniu sua inteligência à de seu Divino Filho, seu pensamento ao pensamento do Homem-Deus. E os dois, assim absortos na  divina Essência, inundados da luz eterna, vendo todas as coisas em  seu princípio e no seu fim, estão presentes espiritualmente no mundo inteiro, para abraçar — no seu todo e nos seus particulares — o universo que Lhes foi confiado. [...]
“Nunca será demais nosso maravilhamento, ao pensarmos até que ponto a proteção da Santíssima Virgem se estende a todos os estados como a todas as necessidades deste mundo. Lourdes é disso um símbolo. Aí se vê como um resumo tangível do que faz Maria Santíssima sempre e em toda a parte. [...] Constantemente Ela oferece socorro àqueles que estão na miséria, auxilio aos pusilânimes, conforto aos que estão em lágrimas. Com sua prece Ela sustenta todo o povo. [...] Ela afasta de nós os males ou os alivia, e atrai sobre nós todos os bens. Em suma, Ela se mostra Mãe tanto quanto é possível sê-lo, e muito mais do que poderíamos imaginar.
“Pode-se pensar, igualmente, que seu patrocínio se adapta aos tempos e aos lugares, às famílias naturais ou espirituais, às cidades e às nações, a tudo o que concerne o movimento e a vida da cristandade sobre a Terra”
Maria ajuda em muitos apuros da vida Por outro lado, segundo Santo Afonso de Ligório, “andamos errando por este vale de lágrimas, como pobres filhos da infortunada Eva, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem no corpo e no espírito. Feliz, porém, aquele que por entre tais misérias se dirige muitas vezes à Consoladora do mundo, ao Refúgio dos pecadores, à grande Mãe de Deus. [...)
“A Santa Igreja bem a nós, seus filhos, ensina com quanto zelo e quanta confiança devemos recorrer sem cessar a esta nossa amorosa protetora. [...] “Bastaria, para isto, somente ver e ouvir que em todas as calamidades públicas ela sempre quer que se recorra à divina Mãe com novenas, com orações, com procissões e visitas às suas igrejas e imagens.
“Isto mesmo quer Maria que nós façamos: que sempre A invoquemos, que sempre Lhe peçamos, não por necessitar dos nossos obséquios, nem das nossas honras tão inadequadas aos seus merecimentos, mas sim para que, à medida da nossa devoção e da nossa confiança, possa melhor socorrer-nos e consolar-nos”
Maria, Mãe e Benfeitora do mundo
Dessa insondável proteção de Maria Santíssima são devedores, não apenas os homens, mas também todas as coisas criadas.
Com razão, pois, é Ela chamada Mãe do mundo.
Ouçamos o renomado jesuíta Pe. Terrien: “O mundo material recebeu tais bens por intermédio de Maria, que Ela pode ser considerada, em sentido impróprio, sua Mãe. [...]
“[Assim exprime] Eádmero a inapreciável vantagem que a criação material recebeu de Deus, pelo ministério da Santíssima Virgem: [...] «As criaturas deviam ser como uma escada que permitisse ao homem elevar-se ao seu comum Autor e a consideração da natureza havia de conduzi-lo ao conhecimento dos esplendores divinos. Esta dignidade elas a perderam [em consequência da queda de Adão]. Lamentável prejuízo que duraria até o momento em que veio ao mundo, por intermédio de Maria, o Redentor Então retomou o homem ao conhecimento de Deus, graças ao Cordeiro; ao mesmo tempo, as criaturas readquiriram sua primitiva condição e foram restabelecidas em sua antiga honra.
“«Ora, este grande bem, a quem o atribuiremos, senão Àquela cujo seio virginal introduziu no mundo o Cristo, Salvador da natureza humana e, por conseguinte, reparador dos privilégios de toda a criação?
“«[Em vista disso], quem nos acompanhou nesta meditação, estime tudo o que as criaturas inteligentes ou as privadas de razão devem a esta Sacratíssima Virgem, [...] pela qual a natureza das coisas recuperou inestimáveis bens, e o mundo recebeu a insigne graça de ser reerguido de uma tão profunda decadência»”
Para Maria se voltam os olhares de todas as criaturas
Diante dessa inesgotável solicitude de Nossa Senhora para com as criaturas, podemos nos associar à fervorosa exclamação de São Bernardo:
“Ó Maria! É para Vós, como para o centro da Terra, como para a Arca de Deus, como para a causa das coisas, como para a estupenda obra dos séculos, que se voltam os olhares dos habitantes do  Céu e da Terra, dos tempos passados, presentes e futuros. [...] Por isso Vos chamarão bem-aventurada todas as nações, ó Mãe de Deus, Senhora do mundo, Rainha do Céu, [...] pois para todas engendrastes a vida e a glória. Em Vós acham os Anjos a alegria, os justos a graça, os pecadores o perdão para sempre. Com razão, portanto, põem em Vós seus olhos todas as criaturas, porque em Vós, por Vós e de Vós a benigna mão do Onipotente refez tudo o que Ele havia criado”


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