segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Fostes livre do mal que o mundo espanta

Fostes livre do mal que o mundo espanta.
Comentando as palavras do Salmo 90: “Não chegará a ti o mal, nem o açoite se acercará de tua morada”, diz São Bernardo que “a verdadeira vida da alma é Deus, do qual somente pode separá-la o mal. O mal da alma, que outra coisa é senão o pecado?”
O pecado: causa de todos os males
“O mal que o mundo espanta” é, pois, o pecado, destruidor de todos os bens que Deus concede aos homens para se unirem a Ele nesta vida e na outra. É o que salienta o Pe. Texier, corroborado por palavras da Virgem Santíssima, colhidas em revelações particulares:
“Na via que conduz a Deus, o primeiro obstáculo que se nos depara, e o maior, é o pecado: ele reduz a marcha e pode nos jogar fora do caminho. A respeito deste inimigo do Senhor, Maria quer nos comunicar o sentimento de sua alma; Ela nos dirá, com o Salmista: «O vós que amais a Deus, detestai o mal» (51. XCVI, 10). [...]
“O que torna o pecado tão terrível é o fato de ele ser a causa de todos os males.
“Eu sou a saúde dos enfermos, declara a Santíssima Virgem a Maria Lataste (Sua vida, por Pascal Darbinis, II, 199). Ora, há duas espécies de enfermidades: as do corpo e as da alma. Curo igualmente umas e outras. Todas têm por princípio o pecado. Este, com efeito, sujeitou o homem à morte e às diversas doenças que atormentam seu corpo nas provas da vida. E, ao mesmo tempo, inclinou tristemente a alma humana para o mal.
“Quantas vezes, no curso dos séculos, a Santa Mãe de Deus lembrou aos homens esse funesto privilégio do pecado! Em La Salette, em Lourdes 36, indicou Ela o grande mal contra o qual é preciso se premunir, porque ele provoca a cólera do Altíssimo e atrai os castigos sobre o mundo”.
Nossa Senhora, isenta de todo pecado
Ora, esse triste mal que aflige o homem e o mundo, jamais atingiu a excelsa Mãe de Deus, imune como foi, desde o primeiro instante seu ser, a qualquer pecado, seja original, seja atual (isto é, aquele cometido pelo livre consentimento humano).
Com devotas palavras, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira retrata este sublime aspecto de Maria Imaculada:
“Concebida sem pecado original, Nossa Senhora não sentia em si nenhuma inclinação para o que fosse ruim. Pelo contrário, possuía todas as facilidades para dar à graça de Deus uma perfeita e constante correspondência. De sorte que, n’Ela, as grandezas sobrenatural e natural se entrelaçavam numa profunda e maravilhosa harmonia.
“Em consequência, Nossa Senhora tinha como ninguém uma altíssima noção da excelência de Deus, e da glória que Lhe devem render todas as criaturas. Por isso, nutria em sua alma vivíssimo horror ao pecado, que é um ultraje à mesma glória divina. Donde possuir Ela, também, uma ardorosa combatividade, no sentido de execrar toda forma de mal.
“Compreende-se, à vista disto, porque Nossa Senhora é comparada a um exército em ordem de batalha: Castrorum acies ordinata. Ou, como d’Ela se diz, que sozinha esmagou todas as heresias na Terra inteira. Por quê?
“Exatamente porque, já no privilégio de sua Imaculada Conceição, Ela é o modelo de combate ao mal”. 38
Mal que o mundo espanta
Causa dos males do indivíduo, o pecado o é também das desordens sociais. Tal nos assinala um dos grandes teólogos dominicanos, Fr. Victorino Rodríguez y Rodríguez, O. P., frisando o ensinamento do Magistério eclesiástico:
“Toda a vida humana, a individual e a coletiva, apresenta-se como luta, seguramente dramática, entre o bem e o mal. [...]
“E certo que as perturbações, verificadas tão frequentemente na ordem social, decorrem em parte das próprias tensões existentes nas estruturas econônicas, políticas e sociais. Porém, mais profundamente, originam-se da soberba e do egoísmo dos homens, que transtornam também o ambiente social. Mas onde a ordem das coisas é atingida pelas consequências do pecado, o homem, inclinado ao mal por nascença, encontra em seguida novos estímulos para o pecado [Concilio Vaticano II, Gaudium et spes, nn. 13 e 25].”
A única criatura humana na qual o demônio não tem parte
A respeito de como Nossa Senhora foi “livre do mal que o mundo espanta”, é também categórico o ensinamento do Pe. Domingos Bertetto, S. D. B.:
“Entre os seres humanos, Maria é a única de quem se pode dizer: Satanás não tem n’Ela parte alguma. Tudo n’Ela pertence a Deus».
“Efetivamente, não só se admira n’Ela a inocência original e a ausência de todo pecado mortal, mas ainda a imunidade de toda culpa venial, bem como de qualquer mínima imperfeição moral. Deve-se isto, ensina o Concilio de Trento, a um «especial privilégio de Deus», que a Igreja considera ter sido dispensado à Santíssima Virgem (cfr. sess. VI cân. 23, Denz. 833).
“De fato, à Virgem Maria convinha aquela pureza moral que se reclama da sua excelsa prerrogativa de Mãe de Jesus, Cordeiro sem mancha, nascido para abolir o pecado no mundo. [...]
“Por isso foi saudada pelo Arcanjo como cheia de graça e da presença do Senhor. «Que defeito — diz São Pedro Damião —poderia ter lugar na mente ou no corpo d’Aquela que, tal como o Céu, foi o sacrário de toda a divindade?».
“Maria, por conseguinte, agiu sempre sob a inspiração e o impulso do Espírito Santo, de maneira que «nunca preferiu senão aquilo que Lhe mostrava a Divina Sabedoria — acrescenta São Bernardino de Siena — e sempre amou a Deus quanto sabia devê-Lo amar». Por isso é que também d’Ela se devem excluir todas as imperfeições morais” 39
Privilegiada e singular santidade
Sobre a insondável santidade da Mãe de Deus, encontram-se outros fervorosos testemunhos expressos nas páginas da Mariologia. Podemos citar, por exemplo, o de São Bernardo: “Creio que desceu sobre Ela uma abundantíssima bênção santificadora, que não apenas fez  santo o seu nascimento, como também A guardou imune durante sua vida de todo pecado; o qual não se acredita tenha sido dado a nenhum outro nascido de mulher. Convinha à Rainha das virgens o privilégio de uma santidade especial, por cuja virtude transcorresse toda a sua existência sem um só pecado, para que deste modo a que havia de dar à luz o Vencedor da morte e do pecado, obtivesse para todos o dom da vida e da justiça” 40
Enumerando os excelsos privilégios de Nossa Senhora, escreve o Pe. Mathias Faber, S. J. (séc. XVII):
“A quarta estrela da coroa de Maria foi a imunidade de todo pecado atual, mesmo venial. [...] Os santos Padres multiplicam seus testemunhos sobre este ponto. Santo Agostinho ensina no livro Da Natureza e da Graça, que ele não quer, absolutamente, que se faça menção à Bem-aventurada Virgem todas as vezes que se trate do pecado. São Bernardo, São Boaventura, Santo Ambrósio, Santo Efrém, todos enfim falam no mesmo sentido. De resto, o Anjo da Anunciação não o indicou assaz claramente quando disse a Maria: «Ave, cheia de graça»?
“Enquanto andamos pelos lamacentos caminhos deste mundo, nós, homens, [...] não podemos viver muito tempo sem cair em alguma falta, por causa dos perpétuos movimentos da concupiscência que nos excitam ao pecado. Contudo, não era digno da Mãe de Deus estar sujeita a esta enfermidade. Se houvesse Ela cometido um só pecado, poderia convenientemente se tornar a Mãe do Deus que desceu sobre a Terra para extirpar todo pecado? Não redundaria desta falta alguma ignomínia sobre seu Filho?
“Maria foi impecável e confirmada em graça de maneira tão perfeita, que não podia pecar nem mesmo venialmente. É este o ensinamento dos doutores, e a Santa Igreja, que celebra a Conceição e a Natividade da Mãe de Deus, testemunha sua crença na inamissível santidade de Maria, não apenas em seu nascimento, como também no próprio instante de sua puríssima e Imaculada Conceição”
E ainda a célebre e bela sentença do Doutor Angélico:
“Aqueles aos quais Deus elege para uma missão, prepara-os de sorte que sejam idôneos para desempenhar a mesma. [...]
“Ora, a Bem-aventurada Virgem Maria foi por Deus escolhida para ser sua Mãe, e não há dúvida de que Ele A tornou, por sua graça, idônea para semelhante missão, segundo o que o Anjo Lhe disse: «Achaste graça diante de Deus, e eis que conceberás», etc. Certamente que não seria idônea se alguma vez houvesse pecado, já porque a honra dos pais redunda nos filhos, e, ao contrário, redunda no filho a ignomínia da mãe; já pela singular afinidade da Virgem com Cristo, que d’Ela recebeu a carne, pois se diz na segunda aos Coríntios: «Que concórdia pode existir entre Cristo e Belial?»; já também porque, de modo singular, o Filho de Deus, que é a Sabedoria divina, habitou n’Ela, e não só em sua alma, como também em seu seio. E no [livro] da Sabedoria se diz: «A sabedoria não entrará na alma perversa nem habitará no corpo escravo do pecado».
“De sorte que absolutamente devemos dizer que a Bem-aventurada Virgem não cometeu nenhum pecado atual, nem mortal, nem venial, para que n’Ela se cumpra o que se lê no Cântico dos Cânticos:
«Sois toda formosa amiga minha, e não há em ti mancha alguma»”

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