sábado, 17 de dezembro de 2016

Eva, Mãe da vida - Estrela de Jacob Aparecida

Eva, Mãe da vida
A segunda e verdadeira Eva
Assim “como Jesus Cristo foi chamado pelos Padres o novo Adão, assim também a Virgem foi chamada a nova Eva. A primeira Eva foi mãe de todos os viventes na ordem da natureza; a segunda Eva, Maria, o foi na ordem, desmesuradamente superior, da graça. Se lançarmos, porém, um olhar à primeira mulher depois da culpa, eis que Maria se nos depara como totalmente diferente.
“Com efeito, Eva, falando com o Anjo das trevas, que lhe apareceu sob o aspecto de uma serpente, consentiu na prevaricação e arruinou todo o gênero humano. Maria, ao contrário, falando com o Anjo da luz, consentiu na reparação do gênero humano e o salvou. Eva ofereceu ao homem o fruto da morte; Maria, ao contrário, lhe deu o fruto da vida. Eva foi medianeira da morte, Maria foi medianeira da vida”.

Já no século II encontramos estabelecida essa doutrina, pela autoridade de Santo Irineu de Lyon, que escreve: “A Humanidade recebeu um novo progenitor (Jesus) que ocupa o lugar do primeiro Adão. Mas, como a primeira mulher também estava implicada na queda [do homem] por sua desobediência, o processo curativo começa igualmente com a obediência de uma mulher. Dando a vida ao novo Adão, Ela vem a ser a verdadeira Eva, a verdadeira Mãe dos viventes, e a causa de nossa salvação”.
E Santo Epifânio, no século IV, deixou este ensinamento: “Eva foi para todos os homens a raiz funesta da morte e da ruína, porque por ela a morte se introduziu no mundo. Maria foi para eles a fonte da vida, já que por Ela nos foi restituída a mesma, e por meio d’Ela o Filho de Deus veio ao mundo”.
Fazendo eco à tradição cristã, o Pe. Bernardes assim se exprime: “Lamentem-se e chorem os mortais, enquanto filhos de Eva, porque de Eva nada nos aproveitou, exceto a descendência e progenitura de Maria. Mas consolem-se, enquanto filhos de Maria, porque Maria nos vivificou por Cristo, e pelo mesmo Cristo já vivificada para a duração imortal, nos está chamando e convidando para participarmos da mês ma vida”.
Também o Pe. de La Boullaye, S. J., em um de seus célebres sermões na Catedral de Paris, reafirma a sentença dos Santos e doutores:
“Nas origens do mundo, Adão nomeou sua esposa Eva, quer dizer, mãe dos viventes. [...] Adão e Eva, Deus vos criou para serdes o pai e a mãe de nossa raça. Fostes, porém, os assassinos, pois a vida sobrenatural que deveríeis nos transmitir, a extinguistes em vós mesmos! [...]
“Nosso verdadeiro Pai, aquele que devolveu às nossas almas esta seiva de vida divina, a graça, é Cristo; nossa verdadeira Mãe, é a Virgem que O atraiu do Céu para este mundo. Sim, Mãe em toda a força do termo, porque é a Ela, depois de Jesus, que devemos a vida. Mãe, não adotiva, mas real, ainda que seja na ordem espiritual, por que devemos a seus atos pessoais o nos tornarmos filhos de Deus, e de podermos chamar verdadeiramente nosso irmão a Jesus, seu bem-amado Filho”.
Maria é nossa vida
Com sua luminosa sabedoria de Doutor da Igreja, Santo Afonso de Ligório nos dá a conhecer os motivos mais profundos pelos quais Nossa Senhora é a verdadeira Eva, Mãe da vida:
“Para a exata compreensão da razão por que a Santa Igreja nos ordena que chamemos a Maria nossa vida, é necessário saber que, assim como a alma dá vida ao corpo, assim também a graça divina dá vida à alma. Uma alma sem a graça divina só tem nome de viva, porém na realidade está morta. [...] Obtendo Maria por meio de sua intercessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá vida.
“Ouçamos as palavras que a Igreja Lhe põe nos lábios, aplicando-Lhe a seguinte passagem dos Provérbios: «Os que vigiam desde a manhã por me buscarem, achar-me-ão» (VIII, 7). «Os que recorrem a Mim desde a manhã, isto é, sem demora, certamente me acharão».
Ou, segundo a tradução grega, «acharão a graça». De modo que recorrer a Maria é recobrar a graça de Deus. Lemos por isso pouco depois:
«Quem me encontra, encontra a vida e receberá do Senhor a salvação» (Prov. VIII, 35). Ouvi-o, vós que procurais o reino de Deus, exclamou São Boaventura, honrai a Santíssima Virgem Maria e achareis a vida juntamente com a eterna salvação. [...] Daí as palavras de São Germano: «Ó Mãe de Deus, vossa proteção traz a imortalidade; vossa intercessão, a vida»”.
Consoantes aos ensinamentos precedentes, são estas palavras de confiança na Santíssima Virgem, pronunciadas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Maria é verdadeiramente nossa vida. Se Ela não existisse, não teríamos razão alguma para esperar na misericórdia divina; não teríamos nada que justificasse qualquer esperança nossa do Céu, ou qual quer alegria na Terra. Tudo que torna vivível nossa existência é o conjunto de esperanças que a intercessão de Nossa Senhora nos autoriza a ter.
“Por isso Maria é nossa vida. Vivemos por Ela; e se não fosse Ela, cairíamos desfalecidos.
“A Virgem Santíssima é verdadeiramente nossa vida!”
Assim, podemos concluir com o Pe. Chevalier:
“E sempre a partir do coração que o sangue se distribui pelo corpo, e sempre através da mesma artéria principal antes de passar às secundárias. O sangue é a imagem da vida divina. Esta vida nos vem do Sagrado Coração, através desta artéria única, Maria, Mãe dos viventes. No presente não vemos nem o coração, nem a artéria; nem a fonte, nem o canal primeiro; o próprio sangue, não o vemos. Veremos no Céu todas essas maravilhas. Mas, tornando-se visíveis, elas não mudarão. A fonte será sempre a mesma, sempre o mesmo o canal. A diferença é que veremos: e esta visão será nossa eterna felicidade.
“Deus, Jesus e Maria nos aparecerão em toda a sua glória. Deus, fonte de vida, sem fundo e sem margens; nascente que brota inteira em Jesus, e de Jesus se comunica a todos os eleitos, por meio de Maria. Imensa e maravilhosa sociedade: maravilhosa pelo número de seus membros, pela beleza de cada um; maravilhosa ainda mais por sua perfeita unidade! Uma-só vida, um só corpo, uma só cabeça e um só coração. E esse todo, de prodigiosa variedade numa extraordinária unidade, será o próprio Cristo.
“E Maria aparecerá como Mãe desse Cristo, Mãe dos Anjos, Mãe de todos e de cada um dos eleitos. Outra vida não haverá senão a dada por Maria; e nós A contemplaremos como Ela é: Mãe da vida!”
Estrela de Jacob Aparecida
Narra o Livro dos Números (XXII e ss.) que os judeus, a caminho da Terra Prometida, acamparam nas planícies de Moab, onde estava situada Jericó, além do Jordão. À vista do povo de Israel que assim se aproximava, Balac, rei dos moabitas, temendo pelos habitantes de seus territórios, mandou embaixadores a Balaão, adivinho do país de Amon, rogando-lhe viesse amaldiçoar os israelitas.
Contudo, dos lábios do vidente, por obra de Deus, saíram palavras de bênção, e em quatro oráculos profetizou acerca dos destinos daquele povo que “cobria a face da terra”.
No quarto e último vaticínio, Balaão, filho de Beor, proferiu estas palavras: “Nascerá uma estrela de Jacob, e levantar-se-á uma vara de Israel, e ferirá os capitães de Moab...” (Núm. XXIV, 17).
Maria, a estrela de Jacob
O renomado mariólogo francês, Auguste Nicolas, assim se refere a essa prefigura da Santíssima Virgem:
“Eis a impressão que desperta e despertará sempre o doce, puro e santamente gracioso nome de Maria: é o mais generalizado e o menos comum de todos os nomes, que se empresta e não se dá jamais às que o portam (tão próprio é da Virgem que o santificou), e à qual sempre retorna, puro de suas aplicações, como o raio de luz volta à sua estre
“E tal é a significação do inefável nome de Maria: Estrela. Estrela do mar, estrela da manhã, imagem delicada da vinda de Maria ao mundo. Desta mesma estrela, quinze séculos antes, Balaão prognosticava o aparecimento, quando disse, profetizando a dominação universal do Messias: «Eu o verei, porém não agora: eu o fitarei, porém não de perto; UMA ESTRELA SE ERGUERÁ DE JACOB, um cetro se levantará de Israel, ferirá os príncipes de Moab, e reinará sobre todos os filhos de Set». Profecia que todos os antigos hebreus aplicavam unanimemente ao Messias; que, segundo a relação de Josefo, constituía a preocupação universal de sua nação na época da vinda de Jesus Cristo, e que, segundo o mesmo historiador e o Talmud, favoreceu o êxito passageiro do falso Messias Barkochebas, pela significação deste nome, que quer dizer, filho da estrela.
“A Estrela, cujo verdadeiro Filho reina há dezoito séculos 61 sobre todos os filhos de Set (quer dizer, sobre a raça humana, sendo Set o filho de Adão), Maria, ao levantar-se sobre o horizonte do mundo, foi como o dealbar da manhã da verdade, como o despontar do dia da fé, que difundiu sobre o mundo Jesus Cristo, luz eterna, como o chama a Igreja”.
Estrela que desbarata os caudilhos de Moab
Outra magistral interpretação da Estrela de Jacob acha-se em São Boaventura:
“A estrela superior, que é a Bem-aventurada Virgem, nos conduz a Cristo. E d’Ela se entende o que se diz no livro dos Números, com estas palavras: «De Jacob nascerá uma estrela, e de Israel se levantará uma vara que ferirá os capitães de Moab». Chama-se estrela a Bem-aventurada Virgem por sua constante e inabalável virtude. Por Moab se entendem os voluptuosos. Capitães de Moab são os demônios ou os pecados capitais. Esta estrela, quer dizer, a Bem-aventurada Virgem, desbarata os caudilhos de Moab, que são os sete pecados capitais: o espírito de soberba, sendo humílima; o espírito de inveja, sendo benigníssima; o espírito de ira, por ser mansíssima; o espírito de preguiça, por ser devotíssima; o espírito de avareza, por sua liberalíssima generosidade; o espírito de gula, por sua moderadíssima temperança, e, por último, o espírito de luxúria, sendo como é integérrima e onimodamente casta. “Desbaratou, pois, esta estrela os caudilhos de Moab”.
 Portentoso milagre operado por Maria, Mãe da vida
Estendendo suas considerações sobre Nossa Senhora, Mãe da vida, o Pe Jourdain as ilustra com extraordinário exemplo:
 “Maria, não contente de nos procurar a vida da graça, se compraz em nos socorrer também nos perigos que ameaçam nossa vida natural. Quantos enfermos Lhe devem sua cura! Quantos infelizes expostos a um risco de morte inevitável foram salvos por Ela! [...]
“Permiti-nos de vos citar um antigo fato, pouco conhecido.
“Um padre da Eslovênia, devotíssimo da Santíssima Virgem, deixou seu país para se dirigir em peregrinação a Nossa Senhora de Loreto. Teve ele a infelicidade, durante o curso de sua viagem, de cair entre as mãos dos turcos que infestavam as costas da Itália. Como não cessasse de invocar Maria e de dizer que A amava de todo sen coração, os infiéis lhe abriram o peito, arrancaram-lhe o coração e lho entregaram, ordenando-lhe de ir oferecê-lo, ele mesmo, Aquela que tanto amava.
‘Oh! milagre! Esse fiel servidor de Maria não morreu. Aproveitando a liberdade que lhe deram seus carrascos, pôde se arrastar durante alguns dias e chegar a Loreto. Depositou seu coração (ainda incorrupto) aos pés do altar de Maria, recebeu a Sagrada Comunhão e expirou.
‘Eis como Maria é Mãe da vida. Ela, por um retumbante milagre, contrariando todas as leis da natureza, conservou a vida de seu bem-amado servidor o bastante para que ele pudesse cumprir seu voto.

“Maria é, portanto, a Mãe da vida temporal, espiritual e eterna, que Ela nos alcança com sua intercessão.”

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