sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Sois armado esquadrão contra Luzbel

Sois armado esquadrão contra Luzbel
A fim de expressar o pavor que a Imaculada Mãe de Deus inspira às hostes infernais, a tradição cristã e a liturgia católica aplicam a Maria esta frase da Escritura: “Terrível como um exército em ordem de batalha” (Cânt. VI, 3 e 9).
Terrível adversária do demônio
“Quando uma confusa tropa de rebeldes vê avançar contra si um poderoso exército, toma-se de terror à vista dos estandartes e das armas reluzentes, e antes pensa em fugir do que em combater.
“No Cântico dos Cânticos, Maria é comparada a um potente exército: terribilis ut castrorum acies ordinata. Para quem Maria é assim tão terrível? Não para os Anjos, nem para seus fiéis servidores; tampouco para os pobres pecadores que a Ela recorrem com coração contrito e humilhado. Ela é terrível para os anjos rebeldes. A sua simples lembrança, tremem os demônios que não podem suportar sua presença, diz o Cardeal Hugo. E Maria não está só. Com Ela estão todos os Santos e todos os Anjos que formam seu exército. Ela os envia, quando necessário, em socorro daqueles que A invocam. Com razão diz São Pedro Damião que Maria é a nossa proteção contra os demônios, e São Boaventura, que Ela é a vara do poder de Deus contra os inimigos infernais, cujas ciladas e ataques Ela confunde e reprime”.
Comentando a referida passagem dos Cânticos, São João de Avila escreve: “A Virgem, por nenhuma adversidade, tentação nem trabalho, deixou de cumprir a santa vontade do Senhor e de andar em seus santos caminhos. Como pessoa determinada a morrer ou vencer, partiu vitoriosa sobre todos os seus inimigos e deles se fez temer, a ponto de não ousarem aparecer diante d’Ela. Por isso dizem os Anjos que Maria é terrível aos demônios e aos pecados como exército em ordem de batalha” .
Semelhante comentário é este do Pe. Henry Bolo: “Maria, que guarda seus filhos do perigo, sustenta-os na batalha. Toda a luta, qual quer que seja sua natureza, vem do eterno inimigo. Por toda a parte onde ele aparece, Maria tem a missão de lhe calcar a cabeça com seu pé virginal. Não há exército que seja mais terrível ao Inferno do que a Virgem Santíssima. Ela encarna, sob a frágil aparência de mulher, a virtude guerreira, a força nos combates. Trate-se das imensas e mortíferas arenas, maculadas de sangue, perturbadas de gritos e de convulsões, obumbradas de pó, ou bem desse campo de batalha invisível que se chama a consciência de cada um, a vitória é assegurada logo que se invoca Maria”.
Inflexível terribilidade
Esse milenar confronto entre Nossa Senhora e o demônio foi superiormente descrito por São Luís Grignion dc Montfort, nas páginas de seu Tratado da Verdadeira Devoção. Transcrevemos aqui (em itálico) algumas passagens do mesmo, seguidas de comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar mas aumentar até ao fim: a inimiza de entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele Lhe deu até, desde o Paraíso, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos o Anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus.
“Não que a ira, o ódio, o poder de Deus não sejam infinitamente maiores que os da Santíssima Virgem, mas, em primeiro lugar Satanás, porque é orgulhoso, sofre incomparavelmente mais, por ser venci do e punido pela pequena e humilde escrava de Deus, cuja humildade o humilha mais que o poder divino; segundo, porque Deus concedeu a Maria tão grande poder sobre os demônios, que, como muitas vezes se viram obrigados a confessai pela boca dos possessos, infunde-lhes mais temor um só de seus suspiros por uma alma, que as orações de todos o Santos; e uma só de suas ameaças que todos os outros tormentos.
“Inimizade perfeita posta por Deus” — diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. “É Nossa Senhora que aparece com tudo que há de terrível em seu poder voltado contra o demônio e seus sequazes, e com aquela maldição de Mãe arrasando até os alicerces do reino dele.
“Lindíssima é a ideia de que, já no Paraíso Terrestre, quando Nossa Senhora existia apenas na mente de Deus, Ele A adornou de algo como um instinto antidiabólico, à vista do demônio serpeando por aquele Éden.
“Com efeito, a primeira característica de Nossa Senhora face ao demônio é o ódio. Assim como Ela foi cheia de graça, assim Ela foi cheia de ódio contra esse amaldiçoado inimigo de Deus. Porque o ódio santo é, evidentemente, um dom do Altíssimo. Ora, Maria está toda cheia dos dons de Deus, logo está cheia de ódio ao demônio.
“Em seguida, São Luís Grignion fala da clarividência que foi dada por Deus a Maria, para descobrir a malícia da velha serpente. É, portanto, o ver claro, é a sagacidade, é a virtude evangélica da astúcia recomendada por Nosso Senhor, jogando contra a diabólica astúcia e liquidando o demônio! Donde as palavras de São Luís Grignion:
«Tanta força para vencer esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso». É batalha enunciada em todos os seus termos. Assim, cheia de sagacidade e cheia de ódio, Nossa Senhora só pode ter vitórias.
“O temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos os Anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus».
“É uma maravilha de audácia, mas é a pura verdade. Comparada com Deus, Nossa Senhora é menos do que uma pequena milícia em comparação com o maior exército da terra. Assim, compreende-se o pensamento de São Luís Grignion: é tal a humilhação que sofre o demônio sendo esmagado por Nossa Senhora, que ele tem disto especial medo. E um único bater de cílios de Maria, porque carregado de ódio a Satanás, põe em polvorosa o Inferno inteiro.
“Ela é a inimiga, por excelência, do demônio; é Aquela que passa sua eternidade lutando contra ele.
“Na vida de Santa Teresinha do Menino Jesus há este lindo traço: ela disse que haveria de passar o Céu dela fazendo o bem sobre a Terra. Interrogada por sua superiora se ela, então, do Céu protegeria os homens, a Santa teve esta magnífica resposta: «Não, eu descerei»!
“Nossa Senhora passa o Céu d’Ela fazendo o bem sobre a Terra, e se há quem possa dizer «Eu descerei», é Ela, que tantas e tantas vezes se tem mostrado aos homens. Mas, Ela faz duas formas de bem: o bem para o homem e o mal para o demônio. De maneira que o «Eu descerei» da Santíssima Virgem é também descer com o látego, com o castigo para o demônio e seus empedernidos agentes humanos.
Crescente inimizade
“São Luís Grignion diz: «É principalmente a estas últimas e cruéis perseguições do demônio, que se multiplicarão todos os dias até ao reino do Anticristo, que se refere aquela primeira e célebre predição e maldição que Deus lançou contra a serpente no Paraíso Terrestre (Gên. III, 15): Porei inimizades entre ti e a mulher e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar.
“Revela-se aqui a noção de que existe, no decurso da História, uma luta cada vez mais encarniçada e feroz entre a descendência de Nossa Senhora, ou seja, os filhos e escravos d’Ela, e a descendência do demônio, isto é, os homens que a ele se devotaram.
Combatividade e desconfiança em relação aos filhos da serpente
“A época em que vivemos é de intensa combatividade entre essas duas falanges. E por isso toda a piedade e a formação espiritual dos escravos de Maria devem ser ordenadas em função desta luta.
“Convém insistir sobre a palavra traição, empregada pelo próprio Deus. Esta é a arma habitual do demônio. Ele age por meio de traidores que, disfarçados, preparam golpes de surpresa contra os filhos de Nossa Senhora. Estes, portanto, devem compreender que o espírito de combatividade em relação ao demônio é conjugado com o espírito de desconfiança: desconfiar que Satanás está agindo de todos os modos e por toda a parte, com sua infernal insídia.

“Combatividade aliada à desconfiança, eis as características do batalhador de Nossa Senhora contra a raça da serpente”.

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